Você já ouviu falar sobre os contaminantes ambientais? Esses produtos podem causar vários prejuízos ao meio ambiente e à saúde da população – o que merece um cuidado especial.
Neste artigo vamos entender melhor o que são os contaminantes ambientais e qual é a relação entre Bisfenol-A e distúrbios endócrinos. Acompanhe!
O que são os contaminantes ambientais?
O termo contaminantes ambientais refere-se a produtos químicos prejudiciais presentes no solo, no ar, na água, nos alimentos, em cosméticos, dentre outros. Esses compostos podem vir diretamente de fontes humanas, como manufatura industrial, escoamento agrícola e descarte de águas residuais, ou podem se originar de fontes naturais, como os produtos químicos que causam gosto e odor na água gerada por algas e bactérias.
Entre os principais contaminantes ambientais, podemos destacar os inseticidas, detergentes, repelentes, desinfetantes, fragrâncias, solventes, retardantes de chama, entre outros produtos, que estão presentes nos efluentes industriais, residenciais e de estações de tratamento de água e esgoto, além de produtos usados no dia a dia como cosméticos, shampoos, entre outros.
Um subgrupo de contaminantes ambientais que merece destaque é o dos disruptores endócrinos (EDCs – Endocrine-disrupting chemicals), que são produtos químicos que imitam, bloqueiam ou interferem com os hormônios do sistema endócrino do corpo. É justamente entre os disruptores endócrinos que está o Bisfenol-A – que será o tópico deste artigo.
O que é o Bisfenol-A?
Também conhecido como BFA, o Bisfenol-A é um dos químicos de maior predominância nos produtos comercializados na atualidade, sendo utilizado em ampla escala na produção de plásticos de policarbonato, revestimento de latas metálicas, além da indústria cosmética. Este composto é empregado no processo de fabricação dos mais diversos elementos, como garrafas plásticas, selantes dentários, cremes, resinas epóxi, tubulações de ar-condicionado, mamadeiras e recipientes de comida.
Como o BFA é muito utilizado em embalagens plásticas de alimentos, sendo aplicado até mesmo como revestimento de recipientes metálicos, acredita-se que a principal exposição humana ao BFA seja por meio da dieta. Estudos já comprovaram que o BFA pode migrar do plástico quando exposto a elevadas temperaturas, o que faz com que os alimentos acondicionados em recipientes com este composto possam ser contaminados pelo bisfenol, especialmente quando em contato com temperaturas extremas, como o sol ou com o calor – seja por mau armazenamento ou pelo seu processo de transporte, ou pelo resfriamento, como congelamento.
Os estudos indicam que a contaminação da população com o BFA está em níveis alarmantes. Uma pesquisa realizada por Calafat e cols. detectou a presença de bisfenol em 95% das 371 amostras recolhidas com adultos americanos para análise. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, no Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição de 2003-2004, encontrou concentrações relevantes de BFA em 92,6% dos exames de urina realizados em um estudo com 2.517 participantes com mais de 6 anos de idade.
Ao mesmo tempo, um estudo realizado em uma Universidade de Curitiba com 500 estudantes (por esta autora que vos escreve e sua equipe!) observou que 91,3% dos alunos consomem alimentos armazenados em embalagens plásticas, 90,06% utilizam bebidas nesse tipo de recipiente e 84,8% consomem bebidas/alimentos enlatados – enquanto apenas 19,8% já ouviram falar em BFA e 97,2% não sabem sobre a relação entre a exposição ao BFA e alterações endócrinas.
Esses dados causam grande preocupação, pois os estudos mostram cada vez mais a toxicidade e atividade hormonal provocada por este composto no corpo humano. Vamos ver a seguir os perigos da exposição ao BPA para a saúde.
Quais produtos podem conter BPA?
Os produtos comuns que podem conter BPA incluem:
- Itens embalados em recipientes de plástico
- Garras plásticas com água ou bebidas
- Comida enlatada
- Cosméticos como shampoos
- Produtos de higiene feminina
- Lentes de óculos
- Equipamentos esportivos
Quais os riscos que o BPA oferece à saúde?
As alterações endócrinas causadas pelos contaminantes ambientais como o Bisfenol-A certamente não são benéficas para a saúde. Mas quais são os riscos que o BPA pode oferecer ao corpo humano?
Para compreender isso, vamos utilizar como base alguns estudos que já foram feitos sobre o assunto. Os efeitos adversos encontrados incluem:
- Aumento da pressão arterial [1]
- Agravamento da doença renal crônica [2]
- Diabetes [3]
- Obesidade [4]
- Maior prevalência de doença cardiovascular
- Anormalidades em enzimas hepáticas
- Aumento do risco à diversos tipos de câncer, especialmente os endócrinos como de mama, tireoide, e testículo em homens.
- Alterações comportamentais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico e alterações do neurodesenvolvimento em bebês e crianças.
Esses efeitos adversos ocorrem porque o BFA imita a estrutura e função do hormônio estrogênio, devido a isso ele se enquadra na classe de substâncias chamadas xenoestrógenos. Devido à sua forma semelhante ao estrogênio, o BFA pode se ligar aos receptores de estrogênio e influenciar os processos corporais, como crescimento, reparo celular, desenvolvimento fetal, níveis de energia e reprodução. Além disso, o BFA também pode interagir com outros receptores de hormônio, como os da tireoide, alterando assim sua função.
Como evitar complicações por conta do BPA?
É difícil evitar completamente o BPA, mas algumas dicas podem ajudar a minimizar a exposição:
- Priorize o consumo de produtos que indicam que não há BFA em suas embalagens
- Compre e armazene alimentos em potes de vidro, não de plástico
- Use produtos frescos, congelados ou secos em vez de enlatados
- Evite esquentar ou congelar alimentos em recipientes de plástico
Um estudo [5] sugeriu que, após apenas 3 dias comendo uma dieta de alimentos frescos sem produtos retirados de uma lata ou embalagem de plástico, os níveis de BPA nos corpos dos participantes caíram significativamente. Outro estudo, realizado na Universidade de Harvard, observou que, após uma semana consumindo apenas água de garrafas plásticas, o nível de Bisfenol-A na urina aumentou em 75%.
Além de todos esses cuidados, um profissional médico também pode ajudar com instruções de como se manter saudável para evitar os efeitos adversos que a exposição ao Bisfenol-A pode causar.
Você já conhecia as complicações que podem surgir pela exposição aos contaminantes ambientais? Ficou com alguma dúvida sobre o assunto? Entre em contato comigo!
Referências
[1] BAE, S.; HONG, Y.C. Exposure to Bisphenol A From Drinking Canned Beverages Increases Blood Pressure. Hypertension. 2014: 65(2); 313–319
[2] KRIETER, D.H.; CANAUD, B.; LEMKE, H.D.; et al. Bisphenol A in Chronic Kidney Disease. Artificial Organs. 2013: 37(3); 283–290
[3] AEKPLAKORN, W.; CHAILURKIT, L.O.; ONPHIPHADHANAKUL, B. Relationship of serum bisphenol A with diabetes in the Thai population, National Health Examination Survey IV, 2009. Journal of Diabetes 2015: 7(2); 240–249
[4] HAGOBIAN, T.; SMOUSE, A.; STREETER, M.; et al. Randomized Intervention Trial to Decrease Bisphenol A Urine Concentrations in Women: Pilot Study. Journal of Women’s Health. 2016: 26(2); 128–132
[5] SILENT SPRING INSTITUTE. Fresh food diet reduces levels of hormone disruptors BPA and DEHP. March 30, 2011. Disponível em: https://silentspring.org/news/fresh-food-diet-reduces-levels-hormone-disruptors-bpa-and-dehp
BELLATO, L. R.; OLIVEIRA, L. A.; CUPERTINO, M. C. ANÁLISE DOS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA ADVINDOS DA EXPOSIÇÃO A CONTAMINANTES AMBIENTAIS ORGÂNICOS E INTERFERENTES ENDÓCRINOS. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research – BJSCR. Vol.28,n.2,pp.49-58 (Set – Nov 2019) – Edição Especial do 1º Congresso Regional de Medicina da FADIP
FONTENELE, E. G. P.; MARTINS, M. R. A.; QUIDUTE, A. R. P.; MONTENEGRO JUNIOR, R. G. Contaminantes ambientais e os interferentes endócrinos. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. 2010, vol.54, n.1, pp.6-16. ISSN 1677-9487. doi: https://doi.org/10.1590/S0004-27302010000100003.