O bruxismo é uma condição caracterizada por apertar os dentes ou serrar a mandíbula em excesso. Trata-se de uma desordem que pode afetar crianças ou adultos – porém, muitas delas não apresentam sintomas aparentes.
O que poucas pessoas sabem é que é possível se livrar do bruxismo. Quer entender melhor como isso pode ser feito? Confira ao longo deste artigo!
O que é o bruxismo?
A literatura médica atual mostra como o estilo de vida contemporâneo, o ambiente de trabalho, a dieta e os hábitos influenciam a situação psicoemocional do paciente e como esses fatores afetam a condição da musculatura das mandíbulas, incluindo um aumento na incidência de bruxismo na população.
Clinicamente, o bruxismo é um hábito oral que consiste em ranger ou apertar os dentes, em movimentos involuntários rítmicos ou espasmódicos não funcionais, ao contrário dos movimentos naturais de mastigação da mandíbula. Se não tratado, pode levar a danos temporários ou permanentes nos dentes, periodonto e mucosa oral, patologia dos músculos que constituem o sistema mastigatório, cefaleia, dor cervical e temporomandibular, e até mesmo a distúrbios auditivos.
Estudos epidemiológicos mostraram que o bruxismo pode se apresentar em todas as faixas etárias, mas é mais comum na população jovem [1]. Os estudos indicam taxas de prevalência de bruxismo em crianças variando entre 14% e 20%, enquanto em adultos varia entre 6% e 8%, com a tendência de diminuir com o aumento da idade. [2]
Sintomas do bruxismo
Ao contrário do que muitos pensam, o bruxismo não gera consequências diretas apenas nos dentes e sistema mandibular. Na verdade, existem várias outras implicações nos pacientes, sendo que podemos dividir os principais sintomas de acordo com a área atingida [3]:
Odontologia
Cerrar ou ranger os dentes durante o sono (frequentemente notado pelo parceiro ou colega de quarto); hipersensibilidade dos dentes a calor, frio, doce ou outros; atrito; fraturas de dentes; consequências negativas nas recessões periodontais e gengivais; perda de dentes; danos e fissuras em próteses fixas e removíveis (especialmente cerâmicas odontológicas); mordidas na bochecha e língua
Otorrinolaringologia
Zumbido nos ouvidos, dores de ouvido com possível perda auditiva, infecções de ouvido, apnéia
Neurologia
Cefaleia constante; dor nas têmporas; distúrbios do sono (insônia); ansiedade, estresse e depressão; tontura; vertigem
Oftalmologia
Hipersensibilidade à luz, dor no olho ou ao redor do olho, dificuldade de foco visual
Fisioterapia
Músculos da mandíbula doloridos, dor facial ou dor na mandíbula, maior tensão muscular, dor miofascial, distúrbios da articulação temporomandibular (estalido), trismo, formigamento nas mãos e nos braços
Outros
Mudanças na aparência facial, distúrbios alimentares
Aspectos psicológicos do bruxismo
Várias experiências emocionais patológicas resultam no desenvolvimento de uma disfunção, como o bruxismo muscular, sendo que isso pode estar relacionado à oclusão ou ser causado inteiramente pela estimulação psicológica. Além disso, estudos comprovam que pessoas compulsivas, controladoras e agressivas são mais vulneráveis a desenvolver bruxismo [4].
Os estressores crônicos, o tipo de estresse ao qual uma pessoa é submetida todos os dias, levam indiretamente a vários distúrbios. O estudo de Bayar et al. [5] prova que as disfunções oclusais estão intimamente ligadas a distúrbios psicológicos de diferentes graus de gravidade, muitos dos quais são causados por uma incapacidade de aceitar a realidade cotidiana ou pelo exagero ao experimentar estímulos externos – em outras palavras, o estresse crônico. Bayar assume que as origens do bruxismo são complexas; no entanto, indica que o mais importante é o fator psicológico, o que também é confirmado por outros autores [6,7].
Um músculo, quando passivo, fica sob tensão constante da estimulação dos neurônios pela corrente central de impulsos nervosos. O estresse crônico e as reações de alerta por ele desencadeadas se manifestam como deficiências funcionais do sistema nervoso-muscular e são os principais fatores etiológicos do bruxismo psico-dependente [8].
Quando esses distúrbios aparecem, as tensões acumuladas são liberadas diretamente pelas arcadas dentárias, por meio do aumento da atividade muscular, o que pode gerar cefaleias. Essa atividade anormal e o aumento da tensão são controlados pelo sistema límbico e hipotálamo, estimulados pelo estresse crônico, que estão ligados ao córtex. Desse modo, ocorre uma correlação entre a estimulação consciente, as atividades inconscientes e o comportamento emocional e psicológico com a tensão muscular que ocasiona o bruxismo.
Assim, com base na etiologia, o bruxismo pode ser dividido em bruxismo noturno, bruxismo em vigília ou briquismo, dependente de oclusão, psico-dependente e um tipo misto, dependendo tanto da oclusão quanto da psique.
Tratamentos farmacológicos
A maioria dos medicamentos investigados para o tratamento do bruxismo foram usados em estudos experimentais de pequeno tamanho de amostra, nos quais os efeitos foram avaliados apenas após períodos de tratamento muito curtos usando a medicação. [9-12]
Mohamed et al. relatou o primeiro RCT avaliando o uso de amitriptilina durante 7 dias em um grupo de pacientes com bruxismo noturno e sintomas de disfunção temporomandibular, não encontrando mudanças nos relatórios de dor e nas atividades noturnas do músculo maxilar com a terapia. [37] Outras terapias farmacológicas como bromocriptina e propranolol também foram investigados, mas novamente não conseguiram mostrar resultados positivos [13]
Medicina Integrativa e o bruxismo
Por conta do curto prazo dos benefícios promovidos pelos medicamentos para o bruxismo, muitas pessoas buscam outros tipos de tratamentos alternativos capazes de amenizar os efeitos do distúrbio. Esses tratamentos podem ser muito úteis no combate às causas e à ação do bruxismo, promovendo mais qualidade de vida e bem-estar para os pacientes.
As abordagens integrativas podem incluir sessões de fisioterapia, biofeedback, acupuntura, fitoterapia, aromaterapia, terapia de redução de estresse e ioga. Além disso, programas de autoconsciência e instruções de dentistas também podem ajudar os pacientes a reconhecer o aperto e hábitos adicionais que resultem na contração dos músculos da mandíbula, tanto para o bruxismo diurno quanto o noturno.
Entre os medicamentos fitoterápicos usados para tratar o sono bruxismo, Phytolacca decandra e Melissa officinalis são os mais comumente usados. O primeiro é indicado para ranger e morder dentes e o segundo é indicado para ansiedade [14].
O uso da aromaterapia é outra abordagem popular para tratar os sintomas e impulsos do bruxismo. Os melhores óleos essenciais para tratar o ranger dos dentes incluem lavanda,
camomila romana, ylang-ylang, zimbro e hortelã-pimenta. Algumas propriedades comuns encontradas nestes óleos reduzem frequência cardíaca e pressão arterial, são anti inflamatórios, analgésicos, antiespasmódicos, induzem o sono, fortalecem os vasos sanguíneos e previnem danos aos nervos.
Além destas abordagens, a Homeopatia, uma especialidade médica que busca compreender e tratar o paciente como um todo, também oferece várias opções de tratamento com eficiência demonstrada. O estudo de Silva et al [15] é um exemplo de demonstração dos remédios homeopáticos em pacientes com bruxismo, com desaparecimento total do bruxismo e sintomas associados após tratamento homeopático combinado durante 2 meses.
No entanto, estes tratamentos não podem substituir o trabalho do protetor bucal, mas ajudarão a aliviar a dor e tensão. [16]. Portanto, qualquer uma das técnicas acima mencionadas precisa ser usada em conjunto com outros tratamentos para melhores resultados.
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Referências:
[1] ABE, K.; SHIMAKAWA, M. Genetic and developmental aspects of sleeptalking and teeth-grinding. Acta Paedopsychiatr., Basel, v. 33, no. 11, p. 339-344, Nov. 1966.
[2] LAVIGNE, G. J.; MONTPLAISIR, J. Y. Restless legs syndrome and sleep bruxism: prevalence and association among Canadians. Sleep, Winchester, v. 17, no. 8, p. 739-743, Dec. 1994
[3] M. Wieckiewicz, A. Paradowska-Stolarz, W. Wieckiewicz. Psychosocial Aspects of Bruxism: The Most Paramount Factor Influencing Teeth Grinding. BioMed Research International. Volume 2014. doi: https://doi.org/10.1155/2014/469187
[4] T. Takemura, T. Takahashi, M. Fukuda et al., “A psychological study on patients with masticatory muscle disorder and sleep bruxism,” The Journal of Cranio mandibular and Sleep Practice, vol. 24, no. 3, pp. 191–196, 2006.
[5] G. R. Bayar, R. Tutuncu, and C. Acikel, “Psychopathological profile of patients with different forms of bruxism,” Clinical Oral Investigations, vol. 16, no. 1, pp. 305–311, 2012.
[6] D. Manfredini and F. Lobbezoo, “Role of psychosocial factors in the etiology of bruxism,” Journal of Orofacial Pain, vol. 23, no. 2, pp. 153–166, 2009.
[7] E. Katayoun, F. Sima, V. Naser, and D. Anahita, “Study of the relationship of psychosocial disorders to bruxism in adolescents,” Journal of Indian Society of Pedodontics and Preventive Dentistry, vol. 26, supplement 3, no. 7, pp. S91–S97, 2008.
[8] H. Abekura, M. Tsuboi, T. Okura, K. Kagawa, S. Sadamori, and Y. Akagawa, “Association between sleep bruxism and stress sensitivity in an experimental psychological stress task,” Biomedical Research, vol. 32, no. 6, pp. 395–399, 2011.
[9] Eapen, B. V., Baig, M. F. and Avinash, S., An Assessment of the Incidence of Prolonged Postoperative Bleeding After Dental Extraction Among Patients on Uninterrupted Low Dose Aspirin Therapy and to Evaluate the Need to Stop Such Medication Prior to Dental Extractions, Journal of Maxillofacial & Oral Surgery, 2017, 16(1).
[10] Govindaraju, L., Neelakantan, P. and Gutmann, J. L., Effect of root canal irrigating solutions on the compressive strength of tricalcium silicate cements, Clinical Oral Investigations, 2017, 21(2).
[11] Patil, S. B., Durairaj, D., Kumar, G. S., Karthikeyan, D. and Pradeep, D., Comparison of Extended Nasolabial Flap Versus Buccal Fat Pad Graft in the Surgical Management of Oral Submucous Fibrosis: A Prospective Pilot Study, Journal of Maxillofacial & Oral Surgery, 2017, 16(3).
[12] Wahab, P. U. A., Nathan, P. S., Madhulaxmi, M., Muthusekhar, M. R., Loong, S. C. and Abhinav, R. P., Risk Factors for Post-operative Infection Following Single Piece Osteotomy, Journal of Maxillofacial & Oral Surgery, 2017, 16(3).
[13] Wahab, P. U. A., Madhulaxmi, M., Senthilnathan, P., Muthusekhar, M. R., Vohra, Y. and Abhinav, R. P., Scalpel Versus Diathermy in Wound Healing After Mucosal Incisions: A Split-Mouth Study, Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, 2018, 76(6)
[14] Deepa Gurunathan, Nivedhitha MS, Joyson Moses, Mebin George Mathew, Mahesh Ramakrishnan. 2020. Herbal Remedies for Sleep Bruxism in Children. Journal of Complementary Medicine Research, 11 (5), 137-141.
[15] Silva CT, Primo LG, Mangabeira A, Maia LC, Fonseca-Gonçalves A. Homeopathic therapy for sleep bruxism in a child: Findings of a 2-year case report. J Indian Soc Pedod Prev Dent 2017;35:381-3
Dhinesh, B., Bharathi, R. N., Lalvani, J. I. J., Parthasarathy, M. and Annamalai, K., An experimental analysis on the influence of fuel borne additives on the single cylinder diesel engine powered by Cymbopogon flexuosus biofuel, Journal of the Energy Institute, 2017, 90(4)
Mohamed SE, Christensen LV, Penchas J. A randomized double-blind clinical trial of the effect of amitriptyline on nocturnal masseteric motor activity (sleep bruxism) Cranio. 1997;15(4):