Os transtornos de depressão e ansiedade, junto com problemas de sono, afetam uma grande parcela da população. Junto a isso, o consumo de medicamentos antidepressivos (e ansiolíticos – que será tratado em outro artigo), cresce cada vez mais, afetando, de acordo a estatísticas de um estudo da USP em 2021, mais de 20% da população brasileira.
O Brasil está entre os países com maior número de casos de depressão e ansiedade no mundo e, consequentemente, um dos que mais se utiliza medicamentos antidepressivos e ansiolíticos. Em parte, isso se dá por uma sobreprescrição da parte dos médicos, ou, um sobrediagnóstico. Ou seja, o paciente mal chega no consultório já se prescreve um medicamento sem antes avaliar outras possibilidades terapêuticas. Isso ocorre em paralelo com uma banalização do uso destes medicamentos, como se fossem algo ‘recreacional’. Ainda, outros pesquisadores comentam, que há um certo ‘glamour’ que envolve o seu uso.
Quer saber mais?
Veja abaixo:
Conhecendo um pouco mais sobre os antidepressivos
Os medicamentos utilizados para questões de depressão, ansiedade e insônia, são principalmente de duas classes. Os antidepressivos, e os ansiolíticos. Dentro dos medicamentos antidepressivos há várias ‘famílias’ de remédios, divididas da forma como eles atuam no cérebro dentro da sua ação bioquímica no cérebro. E, dentro dos ansiolíticos, os mais utilizados são os benzodiazepínicos (como Rivotril, clonazepam, diazepam, bromazepam) e também os hipnóticos, como o Zolpidem.
Só para se ter uma ideia da amplitude desta questão, em 2021, na capital do Paraná, Curitiba, o Zolpidem, um indutor do sono, foi o medicamento controlado mais vendido, superando até mesmo os antibióticos. Os dados são do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), da Anvisa, agência reguladora dos medicamentos no Brasil. O medicamento encabeça uma lista em que oito das dez substâncias mais comercializadas na Capital paranaense no ano passado foram para tratar distúrbios relacionados à saúde mental. o segundo colocado na lista foi o Cloridrato de Sertralina, usado no controle de casos depressivos, de ansiedade e crise do pânico. O Clonazepam, popularmente conhecido como Rivotril, vem em terceiro lugar.
Quer entender melhor sobre estes medicamentos?
Entenda os riscos do uso de antidepressivos
Se estes medicamentos são largamente utilizados hoje em dia e, se temos tantos casos de depressão e ansiedade, qual seria o problema da sua utilização?
O problema está no excesso da prescrição destes remédios, em casos nos quais, muitas vezes, se conseguiria um bom resultado com outras opções terapêuticas. Há casos nos quais sim, é necessária a utilização destes medicamentos, casos estes em que o paciente terá muitos benefícios com a sua utilização a qual, posteriormente, pode ser revista com o médico com uma retirada gradual do medicamento (o que nem sempre é tão fácil ou simples).
Os principais problemas dos antidepressivos são principalmente de duas vertentes:
1º: A dependência
2º: Os efeitos colaterais – que são de curto, médio e longo prazo.
Estando conscientes deste risco (que muitas vezes não é explicado pelo profissional da saúde), a Medicina Integrativa sugere em um quadro de depressão e/ou ansiedade no qual ainda não foi utilizado nenhum medicamento, buscar antes uma outra opção menos agressiva. Pois, uma vez iniciada a sua utilização, a retirada não é tão simples, e não deve ser feita de forma abrupta.
Quer entender melhor?
Confira a seguir!
Os principais efeitos colaterais dos antidepressivos:
- Sintomas anticolinérgicos: mais comuns nos antidepressivos tricíclicos (mais utilizados são amitriptilina, nortriptilina), mas também ocorrem nos antidepressivos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina – ISRS – (citalopram, escitalopram, fluoxetina, entre outros): pupilas dilatadas e sem reflexos, visão borrada, secura na boca e narinas, dificuldade respiratória, aumento do número de batimentos do coração, diminuição de pressão sanguínea, intestino preso e aumento da temperatura corporal;
- Ganho de peso: mais comum nos antidepressivos triciclicos (amitriptilina e nortriptilina);
- Arritmia cardíaca (como aumento do intervalo QT): mais comum em antidepressivos tricíclicos (amitriptilina) e bupropiona, mas também ocorre em ISRS (citalopram, escitalopram, etc);
- Efeitos gastrointestinais (bloqueio da recaptação de serotonina): náusea e vômitos (venlafaxina), constipação (paroxetina), diarreia (zoloft – sertralina), mas outros também fazem (Donaren, Fluoxetina, etc).
- Agitação ou insônia: os que mais fazem (Bupropiona, Fluoxetina, Sertralina). Também fazem: amitriptilina, venlafaxina, Donaren, paroxetina.
- Disfunção sexual: são amplamente conhecidos, inclusive, há uma síndrome chamada “Disfunção sexual induzida por antidepressivos” – os que mais fazem são: todos da classe dos ISRS (em especial Paroxetina, Escitalopram) e amitrptilina.
Existem efeitos colaterais mais graves?
Embora não tão comuns, também existem. .
A chamada Síndrome serotoninérgica é um estado potencialmente fatal que ocorre devido a excessiva quantidade de serotonina nos receptores cerebrais. Causado pelo uso associado de medicamentos serotoninérgicos (como os antidepressivos) e exacerbado por medicamentos que aumentam os níveis de Serotonina.
Veja a seguir alguns destes:
- Medicamentos psiquiátricos: antidepressivos, lítio, antipsicóticos, medicamentos estimulantes (metilfenidato: a ritalina), sibutramina (entre outros);
- Antieméticos: Plasil, Vonau;
- Medicametos para dor de cabeça ou anticonvulsivantes: sumatriptano, ácido valproico, carbamazepina;
- Analgésicos opioides;
- Relaxantes musculares: ciclobenzaprina;
- Alguns fitoterápicos ou suplementos: erva de são joão, ginseng, L-Triptofano, 5-hiroxitriptofano;
- Drogras ilícitas: cocaína, ecstasy.
Alguns sintomas da Síndrome Serotoninérgica:
- Agitação
- Alterações mentais, como confusão ou hipomania
- Arrepios
- Diarreia
- Espasmos musculares (mioclonia)
- Febre
- Movimentos descoordenados (ataxia)
- Reflexos neurológicos aumentados (hiperreflexia)
- Sudorese intensa sem que tenha havido qualquer atividade física exaustiva
- Tremores
Outros sintomas podem aparecer, como:
- Alterações na pressão sanguínea
- Alucinações
- Náusea
- Perda de coordenação
- Ritmo cardíaco rápido e pressão sanguínea alta
- Temperatura corporal aumentada
- Vômitos
Antidepressivos podem causar alterações na função sexual?
Os efeitos dos antidepressivos na função sexual são amplamente conhecidos, inclusive, há uma síndrome chamada “Disfunção sexual induzida por antidepressivos” – os que mais fazem são: todos da classe dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS), em especial paroxetina e escitalopram, além da amitriptilina.
Você sabia que medicamentos como a Fluoxetina, sertralina e escitalopram podem produzir disfunções sexuais em até metade das pessoas que utilizam estas medicações?
Veja abaixo as porcentagens de disfunção sexual que cada um destes medicamentos faz:
- Fluoxetina: 54% dos pacientes
- Sertralina: 56% dos pacientes
- Paroxetina 65% dos pacientes
Outros riscos dos antidepressivos:
- Aumenta o risco de diabetes:
- Antidepressivos da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS – escitalopram, fluoxetina, citalopram, etc) estão associados a um aumento importante no risco de ter diabetes.
- Em crianças em uso crônico de antidepressivos aumentou-se em 33% o risco de desenvolverem diabetes do tipo 2. O estudo analisou 1,6 milhões de crianças e adolescentes norte americanos com idade média de 15 anos.
- Aumentam o risco de alterações de memória e concentração:
- Especialmente em idosos. A Associação Americana de Psiquiatria Geriátrica recomenda muito cuidado para a prescrição de antidepressivos para idosos pelo elevado risco de demência, devendo ser colocado o risco x benefício na balança.
- Estão associados a uma condição chamada perda cognitiva leve, onde não há alterações estruturais do cérebro mas se tem dificuldade de se realizar todas as tarefas do pensamento com naturalidade (como concentração, raciocínio, memória, cálculos simples, entre outros).
- Os medicamentos mais associados com alterações de memória e concentração são os benzodiazepínicos – rivotril, clonazepam, lorazepam, frontal – mas os antidepressivos também podem causar.
Quero parar, e agora?
Não é algo tão simples. Assim como algumas drogas e outras substâncias psicoativas, eles fazem algo chamado síndrome de abstinência. Quer entender melhor a síndrome de abstinência?
Os sintomas iniciam dentro de 24h até 2 a 3 semanas após a pausa do medicamento (dependendo do remédio usado), sendo os mais comuns:
- Transpiração excessiva
- Náusea e vômitos
- Diarreia
- Tontura
- Ansiedade
- Dor de cabeça
- Cansaço
- Dores musculares
- Fraqueza
- Alterações no sono
- Formigamentos
- Pernas inquietas
Caso queira parar o uso dos antidepressivos é recomendado o fazer acompanhado de um médico capacitado e com experiência na retirada destes medicamentos. Normalmente se recomenda uma retirada gradual, dentro da qual podem ser introduzidos outras substâncias (como fitoterápicos) que auxiliem na produção dos neurotransmissores, que ficarão ‘em falta’ após a retirada dos remédios. Além disso podem ser utilizados moduladores da microbiota intestinal (probioticos), além de vitaminas e substancias neurotróficas como os ácidos graxos contidos nos óleos bons como Omega 3. Também tem benefício comprovado para ansiedade e depressão a Homeopatia e diversos fitoterápicos.
Vamos atuar mais na raiz?
Vamos compreender o que está causando esta depressão?
Podem ser contaminantes ambientais, uma microbiota intestinal desregulada, a carência de algumas vitaminas e minerais, além de elementos comportamentais, relacionamento e propósito de vida.
A resolução com certeza será mais efetiva, real, e duradoura.
E, ainda, nesse processo, você pode encontrar muitas respostas que buscava.
Pois, como ensina um grande livro que me serve de inspiração (A Doença Como Caminho – de Ruediger Dahlke) devemos deixar de enxergar a doença como um inimigo, para enxergá-la como um caminho. Um caminho em direção a nossa evolução, ao nosso aperfeiçoamento, e um sinal daquilo que precisamos aprender e melhorar.
Você já conhecia os riscos dos antidepressivos? Quer entender melhor como pode cuidar da sua saúde mental para viver uma vida mais saudável e feliz? Então entre em contato comigo e vamos caminhar juntos em direção a uma melhor saúde!
Referências:
Breedvelt JJF et al. Continuation of antidepressants vs sequential psychological interventions to prevent relapse in depression. JAMA Psychiatry 2021 May 19; [e-pub]. (https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2021.0823)
Montejo-Gonzalel (1997) J Sex Marital Ther 23:176
Moore (Jan 1999) Hosp Pract, p. 89-96
Reichenpfader (2014) Drug Saf 37 (1): 19-31
Bhatia (1997) American Fam Pshysician 55(5): 1689-94
Cumulative Antidepressant Use and Risk of Dementia in a Prospective Cohort Study – J Am Geriatr Soc – 2018 Oct;66(10):1948-1955. doi: 10.1111/jgs.15508. Epub 2018 Sep 17
Prevalência de transtornos mentais é alta, mas não teve aumento importante na pandemia – Jornal da USP – 03/05/2021