Como será que a Medicina Integrativa contribui para o tratamento do pós-Covid na prática?
Conforme vimos na primeira parte deste artigo, a Medicina Integrativa busca oferecer várias ferramentas diferentes para o tratamento dos pacientes, inclusive os acometidos pelas enfermidades características da Síndrome Pós-Covid. As opções terapêuticas da Medicina Integrativa, além de reduzir o risco de infecção ou aumentar a probabilidade de uma infecção mais branda, também podem ser muito eficientes no tratamento de pessoas que seguem sofrendo com sintomas mesmo após se recuperarem da fase de infecção.
Neste artigo vamos entender melhor cada um dos pontos de atuação da Medicina Integrativa no tratamento do pós-Covid:
- Nutrição e suplementação de vitaminas
- Saúde mental
- Exercícios físicos
- Terapia da natureza e da floresta
- Aromaterapia
- Qualidade do sono
- Botânicos / Fitomedicina
- Homeopatia
Confira mais informações logo a seguir!
8 abordagens da Medicina Integrativa no tratamento do pós-Covid
1. Nutrição
A nutrição de qualidade pode ter uma série de efeitos positivos no sistema imunológico. Uma dieta predominantemente baseada em vegetais, incluindo, por exemplo, frutas, vegetais, legumes, nozes e azeite, pode ter grande influência na suscetibilidade a doenças infecciosas – especialmente quando se trata de alimentos contendo fitoquímicos potencialmente antimicrobianos, antioxidantes, antiinflamatórios e imunomoduladores, como substâncias amargas, vitamina C, óleos de mostarda, ervas, especiarias e chás de ervas. [1]
A dieta baseada predominantemente em plantas e produtos orgânicos pode exercer efeitos antiinflamatórios relevantes e pode ter um impacto de longo prazo na saúde geral e prevenção de diversas doenças, como obesidade, hipertensão e câncer. A comunidade científica vem encontrando cada vez mais evidências de correlações negativas entre a nutrição baseada em plantas e a inflamação crônica, além de respostas imunes patológicas, como a asma brônquica. [2] [3]
Em uma revisão sistemática recente, as vitaminas A e D mostraram um benefício potencial em infecções respiratórias virais, enquanto o selênio e zinco também mostraram efeitos imunomoduladores benéficos em infecções respiratórias virais. No contexto do COVID-19, um recente estudo em Israel mostrou uma associação entre a deficiência de vitamina D e uma maior probabilidade de infecção e hospitalização por COVID-19 em 14.000 indivíduos analisados [4]. Além disso, recentemente um estudo concluiu que a vitamina C oral pode reduzir a duração dos sintomas de infecções virais respiratórias agudas, o que pode se tornar um modelo para uso preventivo de longo prazo na redução da incidência ou gravidade da manifestação de COVID-19. [5]
2. Saúde mental
O estresse psicológico leva a uma taxa de infecção significativamente maior do Coronavírus e outros patógenos sazonais, o que indica que a saúde mental é uma variável importante para o sistema imune. O bem-estar psicológico positivo não parece ser apenas crucial para várias questões cardiovasculares, mas para a resiliência em um sentido mais amplo. Quando a vida se torna significativa e positiva, ela reduz os fatores de risco para doenças cardíacas crônicas e hipertensão, reduzindo os altos níveis de hormônios do estresse.
Os relacionamentos também têm um papel importante para a saúde e cura em uma grande variedade de doenças. O isolamento e a solidão, sentimentos que podem resultar da quarentena, podem exercer uma influência negativa significativa sobre parâmetros fisiológicos como as funções imunológicas – e são considerados tão prejudiciais à saúde como o hábito de fumar. No geral, manter relacionamentos fortes pode levar a um melhor estado de saúde. [6] [7]
3. Exercício físico
Os efeitos positivos do exercício para a saúde física e mental geral, bem como para funções fisiológicas específicas, incluindo o sistema imunológico, foram demonstrados em vários estudos e análises. A falta de exercícios é uma das causas mais comuns de doenças crônicas, tornando os pacientes mais suscetíveis a infecções e complicando o curso da doença. Além disso, os exercícios praticados ao ar livre, como a caminhada, podem ter maiores efeitos positivos gerais do que o treinamento físico em ambientes internos. [8]
4. Terapia da natureza e da floresta
Passar tempo na natureza pode ser uma abordagem preventiva e terapêutica que faz uso de efeitos direcionados de estímulos naturais em florestas, espaços verdes urbanos e paisagens terapêuticas, a fim de promover mecanismos de autorregulação relacionados à saúde em indivíduos e comunidades. A terapia da natureza e da floresta representa, portanto, um método de suporte simples, facilmente acessível, de baixo custo, sustentável e eficaz para melhorar os parâmetros de saúde. [9]
Especialmente na atual natureza pandêmica, a terapia pode ser importante, porque pode ser praticada ao ar livre e individualmente. Portanto, essas medidas provavelmente desempenharão um papel importante na medicina preventiva em um futuro próximo. Estudos recentes mostraram um efeito geral de redução do estresse na qualidade de vida, bem-estar, funções do sistema nervoso autônomo, pressão sanguínea, atividade endócrina, felicidade, saúde mental, atividade imunológica e até mesmo a satisfação da vizinhança. Esses são fatores que podem ser valiosos na atual pandemia. [10]
5. Aromaterapia
Intimamente relacionado com a natureza e a terapia florestal está o campo da aromaterapia. A pesquisa pré-clínica e clínica sobre os efeitos de certos compostos bioativos em óleos essenciais, que estão disponíveis em um grande número de plantas, ganhou um impulso e é cada vez mais publicada. De particular interesse são os efeitos dos terpenos e terpenóides na supressão das respostas inflamatórias e infecciosas e as propriedades imunomoduladoras desses compostos. [11]
A aromaterapia tem sido explícita e / ou implicitamente parte da Medicina Integrativa em todo o mundo, particularmente no campo da medicina botânica, onde tais propriedades são usadas para atingir objetivos terapêuticos específicos, por exemplo, para reduzir a ansiedade. Devido ao seu portfólio antimicrobiano, várias dessas substâncias são de interesse para a prevenção de infecções (respiratórias), o tratamento de suporte de tratamentos convencionais ou uma terapia integrativa autônoma no caso de um curso leve de infecções do trato respiratório. [12]
6. Qualidade do sono
O sono saudável é, sem dúvida, um recurso essencial para a saúde. Deficiência de sono, má qualidade do sono ou mudanças no ritmo cronobiológico do sono estão associados a um aumento nas doenças crônicas. [13]
Um padrão de sono insuficiente (<7 h) também está associado a um aumento significativo nas infecções do trato respiratório superior. A Medicina Integrativa oferece uma grande variedade de maneiras de melhorar a duração e a qualidade do sono, incluindo a aplicação de misturas de óleos de aromaterapia (como o óleo de lavanda), enquanto a prática de ioga e tai chi também podem ter efeitos benéficos. Um pequeno estudo mostrou que o relaxamento muscular progressivo pode reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono em pacientes isolados com COVID-19. [14]
7. Botânicos / Fitomedicina
O uso de substâncias fitoterápicas para infecções respiratórias virais é generalizado e há dados clínicos que podem ser relevantes durante a atual pandemia. Para o tratamento de infecções virais do trato respiratório superior, existem muitos dados pré-clínicos disponíveis para componentes individuais, bem como para extratos de plantas inteiras.
Alguns dos medicamentos fitoterápicos mais promissores para a atual pandemia COVID-19 são o extrato de raiz de pelargônio, um remédio tradicional do sul da África utilizado para infecções respiratórias; a Sambucus Nigra, ou sabugueiro preto, utilizada há séculos na Europa e América do Norte para combater efeitos respiratórios; o chá verde, cujas propriedades podem fortalecer a imunidade contra infecções virais; a Glycyrrhiza, com efeitos imunomoduladores e anti inflamatórios bem conhecidos; as espécies de Echinacea, com ação semelhante à Glycyrrhiza; e o Cistus Incanus, uma planta medicinal mediterrânea tradicional com polifenóis altamente poliméricos como ingredientes ativos. Todos estes fitoterápicos têm ação comprovada através de estudos e revisões científicas, atestando sua eficiência.
8. Homeopatia
Existem evidências de que os tratamentos homeopáticos podem ser eficientes no combate a diversas patologias relacionadas à infecção por Coronavírus – mesmo as que desafiam os tratamentos alopáticos na sua resolução. Por exemplo, uma das principais alterações em pacientes com COVID-19 é a pneumonia intersticial com resposta hiperérgica anormal do sistema imunológico. Em muitos casos, as terapias convencionais administradas até agora não melhoraram o edema intersticial, e ainda não está claro como produzir um efeito imunossupressor eficaz e seguro para tratar a resposta imune patológica hiperérgica causada pelo COVID-19.
Neste sentido, há indicações de que a utilização integrada de três medicamentos homeopáticos, Arsenicum album, Stannum e Ribes nigrum pode ser bastante benéfica. Muitos casos de pacientes com pneumonia restritiva intersticial que não responderam bem à terapia convencional anterior melhoraram muito, tanto nos sintomas subjetivos quanto nos resultados respiratórios funcionais. [15]
Você já conhecia o papel da Medicina Integrativa no tratamento do pós-Covid? Se você tiver qualquer dúvida sobre o assunto ou desejar agendar uma consulta para prevenção ou tratamento da COVID-19, entre em contato comigo!
Referências:
[1] Gershwin ME, German JB, Keen CL. Nutrition and Immunology: Principles and Practice. Berlin: Springer Science & Business Media (1999).
[2] James PT, Ali Z, Armitage AE, Bonell A, Cerami C, Drakesmith H, et al. Could nutrition modulate COVID-19 susceptibility and severity of disease? A systematic review. medRxiv [Preprint]. (2020). doi: 10.1101/2020.10.19.20214395
[3] Hosseini B, Berthon BS, Wark P, Wood LG. Effects of fruit and vegetable consumption on risk of asthma, wheezing and immune responses: a systematic review and meta-analysis. Nutrients. (2017) 9:341. doi: 10.3390/nu9040341
[4] Merzon E, Tworowski D, Gorohovski A, Vinker S, Golan Cohen A, Green I, et al. Low plasma 25(OH) vitamin D level is associated with increased risk of COVID-19 infection: an Israeli population-based study. FEBS J. (2020) 287:3693–702. doi: 10.1111/febs.15495
[5] Schloss J, Lauche R, Harnett J, Hannan N, Brown D, Greenfield T, et al. Efficacy and safety of vitamin C in the management of acute respiratory infection and disease: a rapid review. Adv Integr Med. (2020) 7:187–91. doi: 10.1016/j.aimed.2020.07.008
[6] Uchino BN, Cacioppo JT, Kiecolt-Glaser JK. The relationship between social support and physiological processes: a review with emphasis on underlying mechanisms and implications for health. Psychol Bull. (1996) 119:488–531. doi: 10.1037/0033-2909.119.3.488
[7] Shah SB, Barsky AJ, Vaillant G, Waldinger RJ. Childhood environment as a predictor of perceived health status in late life. Health Psychol Res. (2014) 2:1560. doi: 10.4081/hpr.2014.1560
[8] Lavie CJ, Ozemek C, Carbone S, Katzmarzyk PT, Blair SN. Sedentary behavior, exercise, and cardiovascular health. Circ Res. (2019) 124:799–815. doi: 10.1161/circresaha.118.312669
[9] Kuo M. How might contact with nature promote human health? Promising mechanisms and a possible central pathway. Front Psychol. (2015) 6:1093. doi: 10.3389/fpsyg.2015.01093
[10] Hansen MM, Jones R, Tocchini K. Shinrin-Yoku (forest bathing) and nature therapy: a state-of-the-art review. Int J Environ Res Public Health. (2017) 14:851. doi: 10.3390/ijerph14080851
[11] Capaldi CA, Dopko RL, Zelenski JM. The relationship between nature connectedness and happiness: a meta-analysis. Front Psychol. (2014) 5:976. doi: 10.3389/fpsyg.2014.00976
[12] Gandhi GR, Vasconcelos ABS, Haran GH, Calisto V, Jothi G, Quintans JSS, et al. Essential oils and its bioactive compounds modulating cytokines: a systematic review on anti-asthmatic and immunomodulatory properties. Phytomedicine. (2019) 73:152854. doi: 10.1016/j.phymed.2019.152854
[13] Besedovsky L, Lange T, Haack M. The sleep-immune crosstalk in health and disease. Physiol Rev. (2019) 99:1325–80. doi: 10.1152/physrev.00010.2018
[14] Liu K, Chen Y, Wu D, Lin R, Wang Z, Pan L. Effects of progressive muscle relaxation on anxiety and sleep quality in patients with COVID-19. Complement Ther Clin Pract. (2020) 39:101132. doi: 10.1016/j.ctcp.2020.101132
[15] Tramontana, A. COVID-19 Pneumonia: A Potential Role of Homeopathy. Homeopathy, volume 110, issue 01, 2021. doi: 10.1055/s-0040-1721063
Front. Med., 11 December 2020 | https://doi.org/10.3389/fmed.2020.587749
Seifert G, Jeitler M, Stange R, et al. The Relevance of Complementary and Integrative Medicine in the COVID-19 Pandemic: A Qualitative Review of the Literature. Frontiers in Medicine, 2020. doi: https://doi.org/10.3389/fmed.2020.587749