Os alimentos transgênicos dividem opiniões. De um lado, existe a expectativa de inovação para melhoria dos alimentos e um potencial de alimentar muita gente, especialmente em países com problema de fome. Por outro lado, há controvérsias a respeito dos nutrientes desses alimentos e do seu impacto na saúde da população e do meio ambiente.
Quando falamos sobre os alimentos transgênicos, estamos falando daqueles alimentos geneticamente modificados (AGM), ou seja, são aqueles em que o DNA foi mudado artificialmente. Eles são produzidos em laboratório por meio de técnicas artificiais de engenharia genética. Assim, os embriões são alterados na medida em que recebem um gene de outra espécie.
Os alimentos transgênicos se tornaram muito populares ao longo das últimas décadas e já fazem parte de nossas vidas – mesmo que nem sempre seja fácil de notar isso. Entretanto, estudos de toxicidade animal com diversos alimentos transgênicos demonstraram que eles podem afetar de forma tóxica vários órgãos e sistemas. [1]
Afinal, quais são os perigos que os alimentos transgênicos podem trazer? Confira ao longo deste artigo!
A preocupação com os alimentos geneticamente modificados
Com a crescente introdução dos alimentos geneticamente modificados em nossa dieta, cada vez mais preocupações em relação à segurança deste tipo de alimento vêm surgindo, especialmente em relação às limitações dos procedimentos seguidos na avaliação de sua segurança para consumo e também para o meio ambiente.
Os resultados da maioria dos estudos com alimentos geneticamente modificados indicam que eles podem causar alguns efeitos tóxicos comuns, como efeitos hepáticos, pancreáticos, renais ou reprodutivos, além de alterar os parâmetros hematológicos, bioquímicos e imunológicos.
No entanto, muitos anos de pesquisa com animais e ensaios clínicos são necessários para esta avaliação.
Algumas das principais preocupações são:
- Presença de substâncias alergênicas devido à introdução de novos genes nas plantações;
- Produção de cepas bacterianas resistentes a antibióticos que são resistentes aos antibióticos disponíveis, uma vez que a engenharia genética frequentemente envolve o uso de genes de resistência a antibióticos como “marcadores selecionáveis” – o que criaria um sério problema de saúde pública;
- Presença de outras substâncias tóxicas (como maiores quantidades de metais pesados) nas safras geneticamente modificadas;
- Questionamento quanto às safras serem “substancialmente equivalentes” no genoma, proteoma e metaboloma em comparação com as safras não modificadas;
- Questionamento quanto ao potencial nutritivo das safras geneticamente modificadas, por exemplo, que elas podem vir a conter quantidades menores de fitoestrogênios, que protegem contra doenças cardíacas e câncer;
- Principalmente, preocupação com os efeitos a longo prazo do consumo de transgênicos e das combinações entre diferentes alimentos geneticamente modificados e agrotóxicos, quesitos desafiadores para avaliação em estudos.
A polêmica relação entre transgênicos e saúde
É importante deixar claro que há limites para o que pode ser conhecido sobre os efeitos dos alimentos transgênicos na saúde. Se a pergunta for: “É provável que comer esta comida hoje vai me deixar doente amanhã?”, os pesquisadores têm métodos para obter respostas quantitativas. No entanto, se a pergunta for “É provável que comer este alimento por muitos anos me faça desenvolver problemas de saúde no futuro?”, a resposta será muito mais difícil de precisar, uma vez que boa parte do efeito destas modificações genéticas sobre o ser humano ainda não é conhecida. O sistema imunológico do ser humano está em formação há milênios e nunca na sua história precisou lidar com estas modificações genéticas na natureza, e talvez este seja um dos motivos do aumento de doenças autoimunes, câncer, entre outras, embora o conhecimento sobre estes processos seja ainda muito incipiente.
Com relação à questão da incerteza, é relevante observar que muitas das declarações institucionais favoráveis à segurança de alimentos de culturas transgênicas contêm advertências, por exemplo: “sem consequências evidentes”,“ não são per se mais arriscados”, e “não são prováveis de apresentar riscos para a saúde humana”. Os resultados contraditórios dos estudos, as limitações enfrentadas pela viabilidade das pesquisas mostram a complexidade da avaliação de risco e levantam preocupações quanto à segurança destes alimentos.
Um ponto polêmico nos Estados Unidos é justamente em relação aos riscos dos alimentos transgênicos para a saúde. A engenharia genética permite, pela primeira vez, que genes estranhos, vetores bacterianos e virais, promotores virais e sistemas de marcadores de antibióticos sejam transformados em alimentos. Com a incorporação de novos elementos na dieta humana, os alimentos transgênicos deveriam ser submetidos a extensos testes de segurança. Em vez disso, em 1992, a Food & Drug Administration (FDA) dos EUA decidiu, sem qualquer base científica, que os alimentos geneticamente modificados não apresentam riscos diferentes dos alimentos tradicionais.
Com base nisso, o Center for Food Safety destaca quais são os novos “efeitos inesperados” e riscos à saúde apresentados pela engenharia genética:
1. Toxicidade
Alimentos geneticamente modificados são inerentemente instáveis. Cada inserção de um novo gene e o “cassete” de promotores, sistemas de marcadores de antibióticos e vetores que o acompanham são aleatórios. Não é possível ter uma precisão sobre a composição genética / química dos alimentos para estabelecer um local “seguro” para inserção dos “cassetes”. Como resultado, o novo material genético pode acabar desestabilizando um alimento seguro e torná-lo perigoso. Cada inserção genética cria a possibilidade adicional de que elementos antes não tóxicos nos alimentos possam se tornar tóxicos.
Os cientistas do FDA alertaram que este problema pode criar toxinas perigosas nos alimentos e é um risco significativo para a saúde. A engenharia genética de alimentos pode resultar em níveis elevados de elementos tóxicos de ocorrência natural, aparecimento de novos tóxicos não identificados anteriormente, e maior capacidade de concentração de substâncias tóxicas do meio ambiente (por exemplo, pesticidas ou metais pesados).
2. Reações alérgicas
A engenharia genética dos alimentos cria dois riscos distintos e sérios para a saúde, envolvendo alergenicidade:
- A engenharia genética pode transferir alérgenos de alimentos dos quais as pessoas sabem que são alérgicas para alimentos que elas consideram seguros. Um estudo do New England Journal of Medicine mostrou que, quando um gene de uma castanha-do-pará foi transformado em soja, as pessoas alérgicas a nozes tiveram reações graves ao produto projetado. Sem rotulagem, as pessoas com alergias alimentares conhecidas não têm como evitar as consequências potencialmente graves para a saúde de comer alimentos transgênicos contendo material alergênico oculto.
- Os alimentos transgênicos podem estar criando milhares de reações alérgicas novas e diferentes. Cada “cassete” genético sendo transformado em alimentos contém uma série de novas proteínas que nunca fizeram parte da dieta humana. Cada uma dessas numerosas novas proteínas poderia criar uma resposta alérgica em alguns consumidores.
3. Resistência a antibióticos
Outro risco oculto dos alimentos transgênicos é que eles podem tornar as bactérias causadoras de doenças resistentes aos antibióticos atuais, resultando em um aumento significativo na disseminação de infecções e doenças na população humana. Praticamente todos os alimentos geneticamente modificados contêm “marcadores de resistência a antibióticos” que ajudam os produtores a identificar se o novo material genético foi realmente transferido para o alimento hospedeiro.
4. Imunossupressão
O respeitado jornal médico britânico, The Lancet, publicou um importante estudo conduzido pelos drs. Arpad Pusztai e Stanley W.B. Ewen sob concessão do governo escocês. O estudo examinou o efeito em ratos do consumo de batatas geneticamente modificadas para conter o biopesticida Bacillus Thuringiensis (B.t.). Os cientistas descobriram que os ratos que consumiram batatas geneticamente alteradas apresentaram efeitos prejudiciais significativos no desenvolvimento dos órgãos, metabolismo corporal e função imunológica.
5. Câncer
Na criação de alimentos transgênicos, a grande maioria do DNA dietético é degradado por enzimas digestivas de forma relativamente rápida, mas o uso de vírus (desarmados ou não) como vetores deve aumentar o fator de risco significativamente, pois são organismos que estão adaptados para se integrar em genomas hospedeiros e alguns representam fatores de risco para indução de câncer.
O trabalho de Zhixong Li et al. (2002) que induziu leucemia usando vetores retrovirais na produção de transgênicos para um gene marcador comumente usado em camundongos e um relatório recente de indução de leucemia em uma criança submetida a terapia genética para x-SCID usando um retrovírus (Hawkes, 2002) mostra que isso é não é um risco trivial.
Além disso, um estudo realizado pelo Dr. Michael C.R. Alavanja em 2013 foca no aumento do risco de câncer associado ao consumo de alimentos transgênicos tratados com certos pesticidas [2]. Os cientistas ecoaram os sentimentos anteriormente expressos por uma série de pesquisadores epidemiológicos e moleculares bem versados. Evidências substanciais foram fornecidas mostrando que certos pesticidas usados em aplicações agrícolas e comerciais foram associados a um risco aumentado de vários tipos de câncer. Neste estudo, as evidências epidemiológicas, moleculares, biológicas e toxicológicas pareceram reforçar os achados da literatura recente. Ao avaliar a ligação entre pesticidas específicos e vários tipos de câncer, câncer de próstata, linfoma não-Hodgkin, leucemia, mieloma múltiplo e câncer de mama incluídos, as descobertas sugeriram fortemente que os problemas de saúde pública apresentados por alimentos transgênicos e pesticidas são muito reais
Como evitar os alimentos transgênicos?
Ainda não se sabe mensurar os efeitos dos alimentos transgênicos, mas vimos que vários fatores indicam que esses alimentos geneticamente modificados possam interferir de forma negativa em longo prazo. Nesta situação, tomar pequenos cuidados para evitar os alimentos transgênicos pode ser uma boa alternativa.
Para ajudá-lo neste exercício, vamos ver algumas dica para evitar alimentos transgênicos no dia a dia:
- Opte pelos alimentos orgânicos. Além de, na sua maioria, não serem modificados geneticamente, os alimentos orgânicos têm menos ou nenhum pesticida, herbicida e fungicida – e também têm um conteúdo maior de vitaminas e minerais.
- Cuidado com os aditivos. Alguns dos alimentos transgênicos mais comuns (milho, canola, soja, algodão) muitas vezes acabam como aditivos (na forma de xarope de milho, óleo, açúcar, agentes aromatizantes ou espessantes) em alimentos embalados. Por isso, é interessante verificar rótulos dos ingredientes com cuidado, evitando, na medida do possível, alimentos industrializados.
- Dê preferência por frutos do mar pescados na natureza. Alguns peixes criados em fazendas comem ração composta por alimentos transgênicos. Por isso, frutos do mar pescados na natureza se tornam mais benéficos.
- Evite os ingredientes de risco. Sempre que puder, evite os alimentos de risco (que dão origem aos alimentos transgênicos): em especial a soja, a canola, e o milho. No Brasil, estima-se que mais de 95% das lavouras de soja e milho são de alimentos transgênicos.
- Evite o aspartame. Um ingrediente de refrigerantes diet e “doces” de baixa caloria, o aspartame às vezes é feito de microrganismos geneticamente modificados – e também pode ser produzido por meio de um processo químico.
Você já conhecia os perigos dos alimentos transgênicos? Quer entender melhor o impacto desses produtos na saúde? Comece reduzindo os alimentos transgênicos da sua dieta por apenas algumas semanas e preste muita atenção à sua saúde, peso, energia e humor. Veja quais mudanças positivas você nota por adotar uma alimentação mais natural, e partir daí.
Você ficou com alguma dúvida sobre o assunto? Quer conferir mais dicas para uma vida mais saudável? Então continue acompanhando os artigos do meu blog!
Referências:
[1] DONA, A.; ARVANITOYANNIS, I.S. Health risks of genetically modified foods.Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 49(2), 2009. doi: 10.1080/10408390701855993
[2] Michael CR, Alavanja PH, Matthew KR, Matthew RB (2013) Increased Cancer Burden among Pesticide Applicators and Others due to Pesticide Exposure. Cancer J Clin 2: 120-142.
NATIONAL ACADEMIES OF SCIENCES, ENGINEERING, AND MEDICINE; DIVISION ON EARTH AND LIFE STUDIES; BOARD ON AGRICULTURE AND NATURAL RESOURCES; COMMITTEE ON GENETICALLY ENGINEERED CROPS. Past Experience and Future Prospects. Genetically Engineered Crops: Experiences and Prospects. Washington (DC): National Academies Press (US), 2016. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK424534/#
https://www.centerforfoodsafety.org/issues/311/ge-foods/ge-food-and-your-health
http://www.fao.org/3/Y4955E/y4955e0a.htm
https://www.longdom.org/open-access/risks-of-gmos-2155-9600-1000458.pdf