Muitas pessoas sentem dificuldade para emagrecer mesmo com esforços para controlar a alimentação e fazer exercícios físicos. E os grandes vilões por trás dessa situação podem ser os disruptores endócrinos.
Conforme já vimos em outros artigos do blog, os disruptores endócrinos são substâncias ou misturas vistas no meio ambiente capazes de interferir nas funções do sistema endócrino, resultando em efeitos adversos em um organismo intacto ou em sua prole. Ou seja, quando ingeridas ou absorvidas, essas substâncias podem imitar, bloquear ou alterar de outra forma a atividade dos hormônios, interrompendo assim o funcionamento normal do organismo.
Quer entender melhor qual é a relação entre disruptores endócrinos e a dificuldade em emagrecer? Confira logo a seguir!
Relação entre o sistema endócrino e o controle do peso
O sistema endócrino desempenha um papel fundamental na regulação do metabolismo de gorduras, carboidratos e proteínas e em garantir que esses combustíveis atendam às necessidades de energia do corpo em todos os momentos.
Os hormônios são responsáveis pelo armazenamento do excesso de combustível em momentos de abundância, pela mobilização de combustível em momentos de necessidade e, principalmente, pela manutenção de níveis constantes de glicose no sangue. Pode-se esperar que qualquer alteração nesses processos hormonais levará a um desequilíbrio no metabolismo.
O principal estoque de energia no corpo é fornecido pela gordura retida nos adipócitos no tecido adiposo, e é reconhecido que o tecido adiposo também está sob controle endócrino e pode atuar como um órgão endócrino capaz de secretar hormônios [1]. A interferência no controle hormonal das funções do tecido adiposo pode, portanto, levar a depósitos inadequados de gordura e, assim, à obesidade.
O que são os disruptores endócrinos?
Nos últimos anos, muitos produtos químicos ambientais mostraram interromper as ações dos hormônios e foram denominados produtos químicos disruptores endócrinos (EDCs).
Embora grande parte das pesquisas sobre o assunto tenha se concentrado na interrupção da reprodução por meio da interferência com as ações do hormônio estrogênio e na interrupção da ação do hormônio tireoidiano, há cada vez mais relatos de que alguns disruptores endócrinos também podem interferir nos processos regulatórios do metabolismo e no controle da função dos adipócitos, resultando em desequilíbrios na regulação do peso corporal. Esses produtos químicos foram denominados “obesogênicos”.
O que são os obesogênicos?
Em 2006, Bruce Blumberg e Feliz Grun, dois investigadores de Bioengenharia da Universidade da Califórnia, nos EUA, fizeram estudos que relacionam a obesidade com os compostos químicos artificiais que diariamente temos contato.
Para isso, foram analisados diversos produtos do dia a dia:
- Embalagens de alimentos (plástico)
- Remédios
- Tubos de PVC da rede de encanamento
- Teflon das panelas
- Maquiagens
- Cosméticos
- Automóveis
Nestes produtos foram encontradas substâncias que foram nomearam de “obesogênicas”.
Os obesogênicos reprogramam como nossas células funcionam de duas maneiras principais: eles podem promover o acúmulo de gordura por meio do aumento do número e do tamanho das células de gordura ou pelo aumento do apetite, assim como podem dificultar a perda de gordura, alterando nossa capacidade de queimar calorias.
Ou seja, a presença dos obesogênicos em nosso organismo induz as células a “ficarem mais gulosas”. Elas ainda podem desregular as regiões cerebrais que controlam a nossa saciedade e alterar as preferências alimentares.
Relação entre disruptores endócrinos e a obesidade
Um estudo conduzido por Baillie-Hamilton [2] apresenta uma hipótese provocativa para explicar a epidemia global de obesidade: toxinas químicas. Para isso, foram apresentados dados que mostram que a atual epidemia de obesidade não pode ser explicada apenas por alterações na ingestão alimentar e / ou diminuição da prática de exercícios.
Existe um componente de predisposição genética da obesidade. No entanto, a genética não pode ter mudado nas últimas décadas, sugerindo que as mudanças ambientais podem ser responsáveis por pelo menos parte da atual epidemia de obesidade.
Na verdade, é suposto que o nível de produtos químicos no ambiente coincide com a incidência de obesidade, e exemplos de produtos químicos que parecem causar ganho de peso ao interferir com elementos do sistema de controle de peso humano – como alterações nos hormônios de controle de peso, alterados sensibilidade a neurotransmissores ou atividade alterada do sistema nervoso simpático – são observados.
Neste sentido, os produtos químicos com atividade de desregulação endócrina aparecem no topo da lista, visto que a maioria age por meio de receptores ligados à ativação da atividade transcricional.
Uma outra pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade de Harvard [3] mediu a exposição a produtos químicos industriais fluorados (PFAS) no sangue de 621 pessoas, que foram colocadas em dietas de perda de peso para o estudo. Além de maior ganho de peso após a perda de peso induzida pela dieta, níveis mais elevados de PFAS foram associados com metabolismo reduzido, uma possível explicação para o ganho de peso.
O autor sênior do estudo foi Qi Sun, professor da Harvard Chan School. Em um comunicado à imprensa, ele disse que os PFAS e outros produtos químicos foram associados ao ganho de peso e à obesidade em animais de laboratório, mas até agora havia poucos dados sobre seus efeitos nas pessoas. Ou seja, pela primeira vez, as descobertas revelaram um novo caminho pelo qual os PFASs podem interferir na regulação do peso corporal humano e, assim, contribuir para a epidemia de obesidade.
Anos de pesquisa mostraram que quem faz dieta e perde peso geralmente recupera parte ou todo o peso em um ou dois anos. Esse novo estudo, junto com um crescente corpo de evidências científicas, sugere que a exposição a poluentes químicos pode desempenhar um papel importante na forma com que controlamos nosso peso – e que podemos ser mais propensos a desenvolver doenças como obesidade e diabetes com base em nossas exposições químicas.
Como reduzir o contato com os obesogênicos?
Os obesogênicos podem ser encontrados em quase todos os lugares e nossa dieta é a principal fonte de exposição, já que alguns pesticidas e adoçantes artificiais são obesogênicos. Da mesma forma, eles estão presentes em plásticos e produtos domésticos, então reduzir completamente a exposição é extremamente difícil. Entretanto, reduzi-lo de forma significativa não é apenas viável, mas também muito simples.
Com base nas pesquisas sobre o tema, recomendo algumas ações para evitar este contato:
- Escolher alimentos frescos em vez de produtos processados com longas listas de ingredientes no rótulo – quanto mais longa a lista, maior a probabilidade de o produto conter obesogênicos;
- Compra de frutas e vegetais produzidos sem pesticidas (orgânicos);
- Reduzir o uso de plástico, especialmente ao aquecer ou armazenar alimentos. Em vez disso, use recipientes de vidro ou alumínio para seus alimentos e bebidas;
- Remoção de sapatos ao entrar na casa para evitar a entrada de contaminantes na sola dos sapatos;
- Aspirar e tirar o pó da casa com frequência usando um pano úmido;
- Remover ou minimizar carpetes em casa ou no trabalho, pois eles tendem a acumular mais poeira;
- Evitar excesso de produtos de limpeza quando possível, ou escolher aqueles que não contenham obesogênicos.
- Evitar refrigerantes e alimentos enlatados – no revestimento de latas metálicas há o bisfenol-A, um importante obesogênico.
- Buscar utilizar cosméticos mais naturais, sem ftalatos.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Você já conhecia a relação entre os disruptores endócrinos e a dificuldade de emagrecer? Ficou com alguma dúvida sobre o assunto? Entre em contato comigo. Ficarei muito feliz em ajudá-lo!
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Referências:
[1] NEWBOLD, R. R.; PADILLA-BAKS, E.; SNYDER, R. J. et al. Developmental exposure to endocrine disruptors and the obesity epidemic. Reproductive Toxicology. 2007;23:290–296. Evaluation of the association between endocrine disruptors and the development of obesity.
[2] BAILLIE-HAMILTON, P. F. . Chemical toxins: A hypothesis to explain the global obesity epidemic. J. Alt. and Comp Med. 2002; 8, 185–192.
[3] LIU, G; DHANA, K.; FURTADO, J. D; et al. Perfluoroalkyl substances and changes in body weight and resting metabolic rate in response to weight-loss diets: A prospective study. PLoS Med 15(2): e1002502. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002502
DARBRE, P. D. (2017). Endocrine Disruptors and Obesity. Current obesity reports, 6(1), 18–27. https://doi.org/10.1007/s13679-017-0240-4
ELOBEID, M. A.; ALLISON, D. B. (2008). Putative environmental-endocrine disruptors and obesity: a review. Current opinion in endocrinology, diabetes, and obesity, 15(5), 403–408. https://doi.org/10.1097/MED.0b013e32830ce95c
HEINDEL, J. J.; Endocrine Disruptors and the Obesity Epidemic, Toxicological Sciences, Volume 76, Issue 2, December 2003, Pages 247–249, https://doi.org/10.1093/toxsci/kfg255
Environmental Working Group. Toxic Chemicals May Increase Chances of Regaining Weight After Dieting. Disponível em: https://www.ewg.org/news-and-analysis/2018/03/toxic-chemicals-may-increase-chances-regaining-weight-after-dieting
European Society of Endocrinology. Minimizing exposure to common hormone-disrupting chemicals may reduce obesity rates. ScienceDaily. ScienceDaily, 20 May 2018. Disponível em: www.sciencedaily.com/releases/2018/05/180520090900.htm
GRÜN, F.; BLUMBERG, B. Environmental obesogens: organotins and endocrine disruption via nuclear receptor signaling. Endocrinology. 2006 Jun;147(6 Suppl):S50-5. doi: 10.1210/en.2005-1129. Epub 2006 May 11. PMID: 16690801.