Você já ouviu falar sobre Síndrome pós-Covid? Essa é uma complicação que está afetando muitas pessoas que contraíram o coronavírus e continuam sentindo alguns dos sintomas após a recuperação inicial.
A maioria das pessoas infectadas com o COVID-19 se recupera completamente em poucas semanas. Mas algumas pessoas – mesmo aquelas que tiveram versões leves da doença – continuam a sentir os sintomas por semanas (ou meses). Essa condição está sendo chamada de Síndrome pós-Covid.
Quer entender melhor como funciona essa Síndrome pós-Covid? Então confira logo a seguir!
O que é a Síndrome pós-Covid?
Por ser uma doença recente, ainda não sabemos ao certo quais são as consequências que o COVID-19 pode ter em longo prazo. Entretanto, já é possível notar que algumas pessoas continuam apresentando sintomas da doença após o período de recuperação inicial.
Portanto, a Síndrome pós-Covid pode ser definida como a ocorrência de sintomas prolongados em pessoas que já “se recuperaram” do coronavírus e testaram negativo para o vírus. Geralmente, considera-se que um paciente está sofrendo com a Síndrome pós-Covid quando os sintomas permanecem após 3 semanas desde o início dos sintomas.
Quão comum é a Síndrome pós-Covid?
Cerca de 10% dos pacientes com teste positivo para o vírus SARS-CoV-2 permanecem doentes por mais de três semanas, e uma proporção menor por meses. Esses dados se baseiam no estudo de sintomas COVID do Reino Unido, no qual as pessoas inseriram seus sintomas contínuos em um aplicativo de smartphone. [1]
Além disso, um estudo recente nos Estados Unidos descobriu que apenas 65% das pessoas haviam retornado ao seu nível anterior de saúde 14-21 dias após um teste positivo. [2]
Idosos e pessoas com muitas condições médicas graves têm maior probabilidade de apresentar sintomas persistentes de COVID-19, mas mesmo as pessoas jovens e saudáveis podem se sentir mal por semanas a meses após a infecção.
Por que algumas pessoas são afetadas?
Não se sabe por que a recuperação de algumas pessoas é prolongada. Alguns dos fatores que podem contribuir para a Síndrome pós-Covid são: a viremia persistente devido à resposta fraca ou ausente de anticorpos, recidiva ou reinfecção, reações inflamatórias e outras reações imunológicas, descondicionamento e fatores mentais (como estresse pós-traumático). [3] [4]
Além disso, sequelas respiratórias, músculo esqueléticas e neuropsiquiátricas de longo prazo foram descritas para outros coronavírus (SARS e MERS), e estes têm paralelos fisiopatológicos com a Síndrome pós-Covid. [5]
Quais são os sintomas e consequências?
Os sintomas da Síndrome pós-Covid variam amplamente. Mesmo o chamado COVID-19 leve pode estar associado a sintomas de longo prazo, mais comumente tosse, febre baixa e fadiga. [6] Outros sintomas relatados incluem falta de ar, dor no peito, dores de cabeça, dificuldades neurocognitivas, dores musculares e fraqueza, distúrbios gastrointestinais, erupções cutâneas, distúrbios metabólicos (como controle inadequado do diabetes), condições tromboembólicas e depressão e outras condições de saúde mental. [7]
Além disso, existem outras consequências associados à Síndrome pós-Covid:
Danos a órgãos
Embora a COVID-19 seja vista como uma doença que afeta principalmente os pulmões, ela também pode causar danos a muitos outros órgãos. É importante estar atento a estas sequelas, uma vez que este tipo de lesão pode aumentar o risco de problemas de saúde a longo prazo. Até o momento, os órgãos identificados como mais comumente afetados pelo COVID-19 incluem:
Coração
Os exames de imagem feitos meses após a recuperação de COVID-19 mostraram danos duradouros ao músculo cardíaco, mesmo em pessoas que apresentaram apenas sintomas leves de COVID-19. Como resultado, isso pode aumentar o risco de insuficiência cardíaca ou outras complicações cardíacas no futuro.
Pulmões
O tipo de pneumonia frequentemente associada ao COVID-19 pode causar danos de longa data aos alvéolos nos pulmões. Após a recuperação da doença, o tecido cicatricial resultante pode levar a problemas respiratórios de longo prazo.
Cérebro
Mesmo em pacientes jovens e previamente saudáveis, o COVID-19 pode causar derrames, convulsões e síndrome de Guillain-Barré – uma condição rara do sistema imunológico que causa paralisia temporária. Além disso, o COVID-19 também pode aumentar o risco de desenvolver a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer.
Coágulos e problemas vasculares
Estudos recentes indicam que o COVID-19 pode tornar as células sanguíneas mais propensas a se agrupar e formar coágulos. Mais do que aumentarem o risco de ataques cardíacos e derrames, acredita-se que muitos dos danos cardíacos causados pelo COVID-19 sejam originados pela presença de coágulos muito pequenos, que bloqueiam os vasos sanguíneos mais finos (capilares) do músculo cardíaco.
Outras partes do corpo que são comumente afetadas por coágulos sanguíneos incluem os pulmões, pernas, fígado e rins. Os efeitos do COVID-19 também podem enfraquecer os vasos sanguíneos, o que causa vazamento e contribui para problemas potencialmente duradouros no fígado e rins.
Dores de cabeça
A dor de cabeça é um sintoma frequente associado à infecção por SARS-CoV2. Segundo Munhoz et al., até 34% dos pacientes sofrem deste sintoma durante a fase aguda da doença. No entanto, a persistência da dor de cabeça ainda foi observada semanas após a recuperação, mesmo em pacientes com sintomas respiratórios leves ou moderados e sem histórico de patologias relacionadas à dor de cabeça previamente. Nenhuma medicação mostrou ser eficiente para combater estes sintomas nos estudos realizados até o momento. [8]
Muitas sequelas do Covid ainda são desconhecidas
Apesar de já termos vários estudos baseados nos dados coletados até o momento, é consenso na comunidade científica de que muito ainda se desconhece sobre como o COVID-19 afetará as pessoas ao longo do tempo. Ainda não há uma revisão de morbidades remotas após a recuperação abrangente, o que dificulta a identificação de potenciais problemas de saúde a que os pacientes podem estar sujeitos. Os pesquisadores recomendam que os médicos monitorem de perto as pessoas que tomaram COVID-19 para ver como seus órgãos estão funcionando após a recuperação, enquanto muitos grandes centros médicos estão abrindo clínicas especializadas para fornecer atendimento a pessoas que apresentam sintomas persistentes ou doenças relacionadas após a recuperação do COVID-19.
Por isso, é importante lembrar que a maioria das pessoas com COVID-19 se recupera rapidamente – mas os problemas potencialmente duradouros causados pelo COVID-19 fazem com que seja ainda mais importante reduzir a propagação da doença, seguindo precauções como usar máscaras, evitar aglomerações e manter as mãos limpas. Além disso, o acompanhamento médico é essencial, tanto no processo de prevenção quanto no tratamento da doença e supervisão após o término dos principais sintomas.
Você já conhecia a Síndrome pós-Covid? Se você tiver qualquer dúvida sobre o assunto ou desejar agendar uma consulta para prevenção ou tratamento da COVID-19, entre em contato comigo!
Referências:
[1] COVID Symptom Study. How long does COVID-19 last? Kings College London, 2020. https://covid19.joinzoe.com/post/covid-long-term?fbclid=IwAR1RxIcmmdL-EFjh_aI-.
[2] Tenforde MW, Kim SS, Lindsell CJ, et al., IVY Network Investigators, CDC COVID-19 Response Team, IVY Network Investigators. Symptom duration and risk factors for delayed return to usual health among outpatients with COVID-19 in a multistate health care systems network — United States, March-June 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep2020;69:993-8. https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/wr/mm6930e1.htm. doi:10.15585/mmwr.mm6930e1 pmid:32730238
[3] Colafrancesco S, Alessandri C, Conti F, Priori R. COVID-19 gone bad: A new character in the spectrum of the hyperferritinemic syndrome?Autoimmun Rev2020;19:102573. doi:10.1016/j.autrev.2020.102573 pmid:32387470
[4] Forte G, Favieri F, Tambelli R, Casagrande M. COVID-19 pandemic in the Italian population: validation of a post-traumatic stress disorder questionnaire and prevalence of PTSD symptomatology. Int J Environ Res Public Health2020;17:4151. doi:10.3390/ijerph17114151 pmid:32532077
[5] Zhang T, Sun LX, Feng RE. [Comparison of clinical and pathological features between severe acute respiratory syndrome and coronavirus disease 2019]. Zhonghua Jie He He Hu Xi Za Zhi2020;43:496-502.pmid:32241072
[6] Assaf G, Davis H, McCorkell L, et al. An analysis of the prolonged COVID-19 symptoms survey by Patient-Led Research Team. Patient Led Research, 2020. https://patientresearchcovid19.com/
[7] Dasgupta A, Kalhan A, Kalra S. Long term complications and rehabilitation of COVID-19 patients. J Pak Med Assoc2020;70:S131-5. doi:10.5455/JPMA.32 pmid:32515393
[8] LIU, Jonathan Wei Ting Wen et al. Post-COVID-19 Syndrome? New daily persistent headache in the aftermath of COVID-19. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 78, n. 11, p. 753-754, 2020. doi: https://doi.org/10.1590/0004-282×20200187.
MUNHOZ, R.P.; PEDROSO, J.L.; NASCIMENTO, F.A.; DE ALMEIDA, S.M.; BARSOTTINI,
O.G.P.; CARDOSO, F.E.C.; et al. Neurological complications in patients with SARS-CoV-2 infection: a systematic review. Arq Neuropsiquiatr. Volume 78, issue 5, 2020. doi: https://doi.org/10.1590/0004-282×20200051
BMJ 2020; 370 doi: https://doi.org/10.1136/bmj.m3026 (Published 11 August 2020)
MAYO CLINIC. COVID-19 (coronavirus): Long-term effects. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/coronavirus/in-depth/coronavirus-long-term-effects/art-20490351